sábado, 28 de novembro de 2009

Deus nos salve da fila dupla

A Savassi é, talvez, o verdadeiro cartão postal de Belo Horizonte. Qualquer forasteiro que ouve falar alguma coisa sobre a cidade já ouviu falar nesta região, charmosa por sua vida cultural, seus cafés, bares e gente bonita.


Exibir mapa ampliado

Porém, o olhar mais atento de quem mora nessa região não deixa escapar o que polui, inevitavelmente, esse lugar: os carros, ou melhor, os motoristas, que durante o dia transformam as ruas em estacionamentos indiscriminados sob o olhar despretensioso dos fiscais da BHTrans (empresa que administra e fiscaliza o trânsito na capital), agora impedidos por uma liminar da justiça de aplicarem multas, conforme mostra o vídeo produzido pelo Jornal da Alterosa:





Quem precisa caminhar pelas ruas do bairro sofre com motoristas que ocupam passeios, estacionam sem cerimônia em filas duplas, descumprem as placas de estacionamento rotativo. Os comerciantes exercitam um pacto de olhos pouco atentos, já que não há vagas para todos os clientes. Já quem mora em uma dessas ruas resta uma boa dose de paciência.


Revitalização


A tão sonhada revitalização do coração da Savassi parece sair mesmo do papel. A Prefeitura já abriu processo de licitação para um projeto que vai, entre outras coisas, eliminar o trânsito nos quarteirões fechados de algumas ruas, o que deve levar à exclusão de aproximadamente 200 vagas de estacionamento rotativo.
A intenção é criar um espaço de lazer e cultura, com fontes luminosas, estacionamentos subterrâneos e espaços abertos. A previsão da PBH é que as obras fiquem prontas em 18 meses. Muita gente já está investindo em negócios nesse pedaço. Os aluguéis comerciais, quando aparecem estão mais caros. O mesmo vale para os imóveis residenciais. Um apartamento de 3 quartos custa, em média, R$ 5 mil/m2, um incremento de pelo menos 30% nos últimos 3 anos.

Bricolagem com Picasa



Gosto de experimentar...conheci o Photoshop quando a versão era 2.0, ou seja, jurássico. Nunca fui muito paciente com tecnologia mas o trabalho na redação online me obrigou a uma intimidade que, com tempo, mostrou-se útil.
Resolvi testar o Picasa uns 2 anos atrás e é com ele que hoje faço a maior parte das edições de imagem de que preciso. Não se trata de nenhum software profissional, mas, para coisas 'domésticas', funciona bem. Melhor, sob o meu ponto de vista, que o Irfanview (que eu só conheci pelo curso de Jornalismo 2.0)

O que eu acho mais interessante no Picasa é que ele já publica as fotos diretamente no Blogspot. Economia de tempo.

Há muito tempo tinha essas fotos guardadas no meu micro, feitas num fim-de-semana em Salvador. Escolhi 3 delas para tratar e publicar.



O que fiz nessa imagem foi reforçar os tons quentes e recortar, destacando o trabalho da baiana e sua barraca de acarajé no Pelour
inho.



Já esta foi fácil. Editei recortando a data da foto, que é uma pintura do por-do-sol na Bahia de Todos os Santos..






Pra terminar, um ensaio do grupo Olodum, colorido por natureza. A foto não tem muita qualidade técnica, mas a cara do músico olhando para a câmera (ao fundo) vale a imagem. Também recortei um braço da turista alemã no canto direito e granulei a foto.

Chope, sorvete e ventilador

domingo, 22 de novembro de 2009

Moderador de apetite para info-obesos




Já faz algum tempo que tomei uma decisão: só vou saber o que eu quiser. Isso, aliás, eu venho dizendo aos meus alunos há algum tempo: deixem o leitor decidir o que é relevante para ele...não insistam. Eu sei que parece uma espécie de conselho próprio dos livros de auto-ajuda, mas, a cada dia me convenço mais de que todo jornalista tem um quê de Paulo Coelho. Afinal, fomos doutrinados nas Universidades para acreditar que temos que informar e formar, seja lá o que isso signifique.
Esse nariz-de-cera serve, no entanto, para tentar explicar porque não uso os leitores de Feed, embora reconheça sua importância para aqueles que ainda não se libertaram das algemas da informação. Ou para pessoas, como nós, que precisamos fazer com que acreditem que estamos 200% conectados.

Paulo Vaz aponta para a necessidade de os jornalistas se perceberem como um nó indispensável nesse emaranhado que é a internet. Isso remete à idéia defendida por alguns autores de que hoje a função de gatekeeper é essencial no jornalismo, talvez a mais importante delas. É um tanto estranho pensar assim, já que todo mundo começa na profissão trabalhando na apuração para sonhar chegar, um dia à edição. Essa porta de entrada, filtro poderoso, perdeu status com o tempo e, hoje, assume importância inquestionável, afinal, o tempo real é implacável. Há, no entanto, quem defende que os gatekeepers não têm mais função, na medida em que somos todos filtros.



Eu continuo acreditando que o melhor remédio para a info-obesidade é o bom senso. Ainda acredito que nada substitui a dor e a delícia de uma navegação descompromissada web afora. É claro que nem sempre isso é possível, mas, para esses momentos, sempre existirá o Google Reader, que não vai te provocar uma crise de abstinência piscando e avisando que você está 450 manchetes atrasado.

Ok, vou dizer o que todo mundo pensa e pouca gente tem coragem de admitir...se vamos ser dominados por alguém, que pelo menos seja por alguém inteligente. Eu admito: quero ser dominada pelo Gooooogle.

Preciso me explicar? Então vamos lá, de trás para frente:

1. Junte no mesmo caldeirão 3 sites de busca:
a. Dogpile
b. Ask
c. Bing
Somados, eles não dão meia ferramenta de busca que se apresente. São robôs que varrem a web e se aproveitam de buscas mais bem feitas de outros sites. De quem? Ora, do Google, é claro, porém, de maneira pouco eficiente.

2. Ok, então, tente o Clusty . A pergunta: “Crise na imprensa”. O resultado: Por acaso você estaria procurando ‘Cruise na imprensa’? Ou seja, nosso jornalismo foi delicadamente resumido na revista Caras. Ou seria a Quem?

3. Um mergulho profundo no Deepdyve pode te levar à conclusão de que você escolheu a profissão certa. Afinal, o site é médico, em essência. Cheguei a pensar que se tratava e uma pegadinha pedagógica ;). Alguém aí procura um psicanalista??

4. Muita gente ainda pode pensar que é implicância. Aí vamos numa tentativa mais ‘doméstica’. Radar Uol (esse tem que funcionar!!!). Funciona mezo/mezo. Mezo ruim com mezo confuso. Se eu faço uma busca em português sobre o tema “Crise na imprensa”, minha expectativa deve caminhar para algo em torno de uma resposta para uma pergunta que ronda o meu universo, certo? Pois bem, o Radar Uol me devolve, como primeiro resultado, uma outra pergunta. Dos outros 4, 3 dizem respeito à crise da imprensa norte-americana. Passo.

5. Sejamos honestos. Sobram-nos duas possibilidades: o Yahoo e o Google
Para minha grata surpresa, os dois são bem bons. O Yahoo traz boas fontes (Pedro Dória), Carta Capital e nosso dileto prof. Carlos Castilho. Para quem conhece as fontes, ótimo. Para quem não conhece, pelo menos uma segurança de estarem recebendo sugestões de qualidade.

Ainda assim, eu prefiro o Google. Seus resultados de busca são mais acertivos do ponto de vista do usuário iniciante. Para os que não são, há sempre alternativas dentro do próprio Google, como o Scholar.
Sou súdita assumida.

domingo, 15 de novembro de 2009

Dez razões para você fabricar o seu próprio pãozinho

Se formos pensar a Internet desde o seu surgimento, o que hoje parece moderno e irreversível (conteúdo cidadão e colaborativo) já o era desde a década de 60, quando de um projeto fechado ela passou às mãos dos usuários de computadores que, rapidamente conectados, trataram de lhe dar a característica de código aberto, pressuposto do que hoje se apresenta como web 2.0.

Alguns autores já se debruçaram sobre esse tema, especialmente Castells (1995) e Levý (1999), sob um ponto de vista mais propositivo e libertário. Segundo essa visão otimista, a Internet nos levaria, inevitavelmente, a uma convivência mais próspera, democrática e participativa. Por outro lado, cuidando de por um pouco fumaça na visão mais altruísta/ingênua, o francês Wolton (2000) sinaliza para um acirramento das relações, agora com ingredientes mais sofisticados de exclusão e domínio político e econômico.

No meio disso tudo, duas categorias de cidadãos: os jornalistas, que sempre se sentiram confortáveis em nos ditar com manchetes bem delimitadas quem, o que, quando, como, onde, quando e porque deveríamos ler determinados conteúdos e, do outro, todos nós, inclusive, os jornalistas, consumidores dos conteúdos dos outros.
Como bem lembra Bambrilla (2008), não é necessário ser jornalista para perceber a virada que a tecnologia vem provocando na Comunicação humana nos últimos 15 anos. No entanto, os jornalistas, ao que parece, só agora começam a ser dar conta de que esse modelo já apresenta sinais claros de fissura e esgotamento. E isso não é uma mazela exclusiva da categoria, mas de toda uma cultura organizacional viciada das empresas de Comunicação, que sempre tratou o leitor/telespectador/ouvinte como um repositório de qualquer sorte de conteúdo.

Neste momento, é como se estivéssemos diante de uma espécie de vingança por anos de abandono de cartas com queixas legítimas, direitos de resposta não cumpridos, pautas empoeiradas e erratas inócuas. Assim, pipocam diariamente milhares de blogs, microblogs, posts em redes sociais e uma vontade incontrolável de dizer ao mundo: “Eu tenho um ponto de vista sobre este assunto e quero me manifestar”.

E aí, me recordei de um texto produzido por um ex-aluno, daqueles bons de verdade, sobre sua gratidão aos padeiros. Falávamos da legitimidade de desejar ser autor. Disse, a certa altura, o Bernardo: “(...) eu sempre estive entre os poucos pedestres que agradeciam o padeiro pelo pão nosso de cada dia. Existem dedicação e apreensão dentro de uma padaria e alguém deve ser reconhecido pelo serviço prestado. Você não fabrica o seu próprio pão, não é?”.

Nosso diálogo sobre pães continuou e, no dia seguinte, postei o texto que se segue e que resume bem o que, para mim, mais se aproxima do modelo de relação que se estabelecerá entre produtores e consumidores de conteúdo nos próximos anos (?):

Dez razões para você fabricar o seu próprio pãozinho

1. você pode fazê-lo na hora que bem entender; não vai precisar acordar às 4h da manhã pra abrir a casa às 6h;
2. você escolhe se quer mais integral ou menos integral, com farinha de linhaça ou de arroz. O pão é seu, lembre-se. A (in)digestão também;
3. você pode convidar um monte de amigos - também amantes da culinária orgânica - pra te ajudar a fazer o pão, o que pode acabar se transformando numa festa com muito vinho sem que isso macule qualquer receita original;
4. você pode entrar para uma comunidade dos fabricantes anônimos de pãozinho, trocar receitas, buscar novos fornecedores de farinha menos contaminada, tornar-se referência no tópico. Nada mal pra quem queria apenas fazer o próprio pãozinho, heim?!
5. fazer o próprio pãozinho pode te deixar com músculos mais saudáveis; apenas consumir pãezinhos, ao contrário, só faz aumentar a circunferência abdominal...
6. quanto mais pãezinhos você fizer, melhores eles vão ficar;
7. você não precisa ficar se sentindo culpado com o eventual desemprego de padeiros consagrados: a classe é organizada e tentará minimizar o SEU poder de padeiro de fundo de quintal;
8. você pode chegar à conclusão de que tem gente que faz pãozinho muito melhor, afinal, o pão do vizinho é sempre mais fresquinho;
9. fazer o próprio pãozinho dá muito trabalho, mas quem falou que era fácil?
10. você pode até decidir voltar a freqüentar a padaria, mas jamais comerá pãozinho do mesmo jeito.

Referências:

Wolton, Dominique. Pensar a Internet. In: Martins, Francisco Menezes e Silva, Juremir Machado. A genealogia do Virtual. Porto Alegre:Sulina, 2004

Castells, Manuel. Internet e Sociedade em Rede. In: Moraes, Denis, Por uma nova Comunicação.

Brambilla, Ana Maria. Olhares sobre o jornalismo colaborativo. In: Cavalcanti, Mario Lima. Eu, Midia. Rio de Janeiro: OPVS, 2008.